29.11.12

ode à torrada

"As torradas, para este homem de normas e princípios, são quase um vício e verdadeiramente uma manifestação de gula insofreável, em que entram múltiplas sensações, tanto visuais como tácteis, tanto olfactivas como gustativas, principiando pelo brilho da torradeira cromada, depois a faca cortando as fatias, o cheiro do pão tostado, a manteiga a derreter-se, e enfim o prazer complexo da boca, do palato, da língua, dos dentes, a que se cola inefável película escura, queimada e macia, e outra vez o cheiro, agora dentro de si, no céu esteja quem tão sublime coisa soube inventar. Raimundo Silva, um dia, disse estas exactas palavras em voz alta, num rápido momento em que lhe pareceu estar transfundindo-se-lhe ao sangue a obra perfeita do fogo e do pão, que, em verdade, para ele, até a manteiga seria supérflua, dispensável sem maior desgosto, ainda que muito néscio terá de ser aquele que recusasse o que, acrescentado ao essencial, lhe redobra os apetites e os sabores, é esse o caso do pão torrado e da manteiga, de que vimos falando, seria também o caso do amor, por exemplo, se dele tivesse o revisor mais ampla experiência."



in "história do cerco de lisboa" de josé saramago

é assim de difícil mudar o meu pequeno almoço
do nestum para as torradas
para sempre

10.7.12

Pergunto-me se foi quando começámos a pensar positiva e construtivamente que começámos a perder alguma da substância.


via Menina Rapaz.

20.4.12

em 2001

Em 2011 fiz um acampamento a vila da ponte e escrevi isto. reencontrei agora. já gostava.


Comemoram o Carnaval de forma algo peculiar. No Domingo antes do Entrudo , todos se juntam e assim passeiam pelas ruas cantando. Tivemos a sorte de presenciar a esse cortejo. Nele as poucas crianças estavam mascaradas : as meninas de fada e os meninos de Zorro. Havia os homens que passeavam ás costas utensílios agrícolas de madeira e o homem com o traje de apicultor acompanhava o acordeão com um pedaço de cortiça enrolado e raspava nele um pau. As mulheres cantavam “Indo eu por Braga acima  , Ai ouvi cantar e parei , ó Ana ó linda Ana , ai ó Ana filha do rei...” e no fim do cortejo todos dançam e cantam ao desafio. Entre todos os habitantes , alguém tradicionalmente trajado com um fato feito de trapos que o cobri da cabeça aos pés , passeava um galo de baixo do braço , galo esse que na Terça feira , dia de Entrudo , seria enterrado , deixado com a cabeça de fora , e quem ajudou a pagar o galo , com os olhos vendados e pau na mãe tenta matar o galo , se conseguir fica com ele.
Na Quaresma um rapaz veste-se de padre e juntamente com outros “cerram a velha” e batem á porta das avós da aldeia , fazem-lhes uma serenata e depois queimam um boneco , feito de palha , supostamente as suas avós e choram e devaneiam como se delas se tratasse. Um espectáculo muito bonito .
No dia da Páscoa , conhecido lá por dia das merendas , todos levam as suas merendas e vão comer no monte. Nos dias 23 e 24 de Junho , comemoram o S.João e até é necessário trancarem as ruas. A 29 de Junho , dia de S.Pedro , os rapazes tiram os vasos das casas ás escondidas e trocam-nos de lugar. No dia 22 de Julho era comemorada a santa. Maria Madalena , padroeira da aldeia e no dia de S.Martinho assam castanhas ao som de música. São estes os festejos da aldeia.
A única ocupação dos aldeões , maioritariamente idosos , é a agricultura .
Perguntamos a uma jovem rapariga quais as ocupações dos jovens ao que ela respondeu que actualmente , estes são poucos porque muitos emigraram costumam jogar futebol , ia para o café ou ir a discotecas , mas antigamente havia um grupo de jovens mais tarde a associação da juventude e iam para a capela jogar ás escondidas ou ao trepa e no salão representavam peças de teatro e cantavam .
Reparamos que havia pouquíssimas crianças na aldeia , por isso , perguntamos se haveria alguma escola lá. Há uma C+S e uma escola primária com 7 alunos e um infantário com 8 crianças.

28.2.12

já te deste conta?

que este blog já fez 5 anos e já vai a caminho dos 6?

manquinho, nos últimos tempos, depois de voltas e cambalhotas e uns tempos à deriva. mas há alturas e alturas...

21.2.12

the help (2011)

não sei bem o que pensar deste filme, para além de ser bonito e emocionante (não digas a ninguém, mas até chorei um bocadinho no fim). fico com a sensação de que é um retrato um bocado romantizado das serviçais daquela altura, nos eua, e o kkk e toda a questão do racismo são tratadas de uma forma um bocado leve e cor-de-rosa.

mas eu não sou crítica de filmes, nem historiadora, por isso, posso ver filmes e não ficar lá muito incomodada com alguma imprecisão. porque se há mundo onde eu entro bem, é no da imaginação.

as listas e o mundo de infinitas possibilidades

sempre gostei de fazer listas, tu sabes.

mas não sou muito boa a acabá-las, e às vezes fico um bocado desiludida quando passa o prazo e não completei tantos itens como gostaria.

no entanto, tenho vindo a aperceber-me que há coisas que vêm a seu tempo.
se, no ano passado, concluí muito pouca coisa da minha lista de ano novo, a verdade é que o ano foi bom, cheio de projectos e de coisas concluídas.
fui a um jamboree, e trabalhei para ele em pleno. vi coisas lindas no nosso país, fui à suíça e à holanda, dei um saltinho à espanha e tirei fotografias de que gosto muito.
tricotei mais. tive um gato. nadei mais. vindimei. conheci lisboa melhor.

e, dei-me conta que, quase sem querer, as coisas foram-se encaminhando para que completasse itens de uma lista que já fiz há uns anos atrás:

5. Develop the b&w films that I've been piling up
22. Learn to make quince cheese with my grandma
34. Take part in a grape harvest
39. Be a tourist in Lisbon
45. Walk the Alentejo Coast and get to know its villages
78. See Radiohead live (em 15/07/2012)
94. Have a BMI=21
95. Swim 1500m in one session, and make them regular (min. 8 times - 1/8)

é fixe ter pontos de referência. e é fixe sonhar, criar pontos de referência novos.
aos poucos vamos aprendendo a fazer listas mais objectivas, e a cumprir os objectivos melhor.

e que não é preciso que seja ano novo para que as listas e os sonhos se pensem.

6.11.11

o wire

como sabes, andei obcecada por uma série. devorei as cinco temporadas depois de um início aos soluços. quero que toda a gente a veja, que toda a gente sinta a estranheza de se afeiçoar a criminosos, de entender a selva em que vivem.

a série foi produzida por um antigo jornalista e um antigo polícia. ambos sabem as corrupções por detrás de tudo, as politiquices, os números, as estatísticas. no meio destes teatros há sempre pessoas honestas que querem fazer o seu trabalho e no entanto não podem. lutam, usam todos os trunfos e mesmo assim não podem.

e assim vemos a perspectiva da polícia de baltimore, face ao crime do tráfico de droga e problemas inerentes. abandono, pobreza, crime.

the wire é considerada uma série de culto por ser a primeira a retratar uma américa real. aqui não são os bons que ganham, a série não termina com um final-final, porque estas lutas nunca terminam. apenas se renovam. e os maus nunca são burros, são extremamente arrojados e inteligentes. e se calhar nem são maus. olha :/

oh, é uma coisa que fica. como aquele filme japones que ressaquei durante semanas, o mesmo vai acontecer aqui. é mesmo, mesmo, mesmo muito bom.

não estão por ordem e há alguma a falhar de certeza, mas algumas das personagens favoritas:

chris, mata dezenas de pessoas e ainda assim ficas a achar que é boa pessoa, correcta

prez, um grande azarado que se revela um génio dos códigos

stringer bell, o maior traficante que tem aulas de macroeconomia na universidade e tenta ensinar o mesmo aos seus miudos de rua

norman, um conselheiro do mayor super cool

os putos, ficas a adorar cada um deles

o mcnulty é o polícia mais ilegal e fixe e cómico

frank sobotka, trabalha no porto, é honesto mas quase obrigado a envolver-se em negócios macacos

bunk, o badocha que bebe imenso e é óptimo polícia

slim, um gangster também super correcto e impecável

carver, adoro a evolução dele de um polícia interesseiro para um sargento e lieutenant admirável

lester freamon é o maior! primeiro passa super despercebido e depois é incrível

daniels, o gajo que quer fazer as coisas de forma correcta mas está sempre entre a espada e a parede

bunny, o polícia que tenta legalizar as drogas em baltimore

omar, se calhar a minha personagem favorita. uma espécie de robin dos bosques dos narcotraficantes, famoso por matar como quem coça comichão, não tem medo, não teme nada, cuida dos seus, e é cómico


bodie, é engraçado, goza muito com os polícias e cria-se uma empatia logo desde a primeira série.

15.9.11

fui ali dar umas voltas no mundo e dentro da minha cabeça e já estou quase a voltar, sim?