31.7.08

olha nós


num raríssimo momento de contacto físico, de aperalte, de comemoração massificada


esvaziei o cartão da máquina e encontrei algumas fotos interessantes. tipo o meu local de trabalho, o itensivo, do último mês

Valença


fiz biscoitos biscoitos




de chocolate e mirtilo

30.7.08

a joui às vezes escreve assim

sms 1: tava aqui a pensar quando é que a tradição portuguesa me começou a fascinar (sim, também me fascina, embora como mera curiosidade, ou sentimento luso, se lá), e sabes quando foi?

sms2: quando foste para a suiça?

sms3: exactamente. quando percebi que casa era aquilo que cada um trazia consigo da terra e como não era paisagem, nem cheiro, nem a terra em si, era aquilo de que mais fiel tinham. por isso é que os emigrantes são parolos, porque preservam, com as devidas adaptações, a única coisa que os identifica. juntando esse esforço de preservação à vontade de integração, temos uma terra de ninguém, que nem a comunidade de partida, nem de destino compreendem. "cá sou imigrante, lá sou estrangeiro" e tudo acaba por inverter o ditado, porque afinal de contas "the heart is where home is". Uf! :)

29.7.08

leituras de verão #1

uma das coisas que eu mais gosto nas férias de verão, à parte o facto de serem apenas isso - férias - é que posso pegar em livros que não tenho tempo ou disposição para ler durante o resto do ano e lê-los, devagarinho, rápido, ao ritmo que eu quiser, com as interrupções que forem necessárias, com as releituras que bem me apetecer.

se durante o resto do ano tenho uma única posição para ler - deitada de lado na cama, com o braço a apoiar a cabeça, mesmo antes de adormecer - agora posso rebolar na cama, ler na relva de barriga para baixo, salpicar as páginas de areia, sol e sei lá bem mais o quê.

leituras de verão parece estranho, parece que as leituras ficam apenas reservadas para esta altura, como se no resto do ano se andasse num torpor iliterário, sem ideias novas, sem vontades novas. a verdade é que não houve outro verão na vida que eu desejasse tanto como este, precisamente por isso: poder ler aquilo que bem me apetecer. fora o resto, claro, mas isso são outras paragens.

para aquecer:

p.s. - gosto da ideia de abolir as maiúsculas por aqui :)

26.7.08

michel giacometti



enquanto procurava imagens do dussaud, deparei-me com homenagens ao michel giacometti. o nome era-me familiar, especialmente porque já tinha lido o tiago pereira falar sobre o seu trabalho de recolha e espólio blindado nos arquivos públicos-não-muito-públicos da rtp. mas, de resto, uma vez mais temos um francês encantado com portugal, suas culturas e seus hábitos.

(e o museu do trabalho michel giacometti que está em setúbal e eu não sabia? tantas vezes passei por ele e só via museu do trabalho com um manequim dos correios na montra...)
veio para portugal no final dos anos cinquenta, interessando-se pela recolha e gravação de música popular portuguesa. percorreu o país de lés a lés nos vinte anos seguintes, radicando-se nas localidades mais resquecidas e longínquas, recolhendo criteriosamente as expressões musicais genuínas do nosso povo. dizem que é ainda o dele o mais exaustivo levantamento da cultura musical portuguesa, com centenas de instrumentos musicais, fotografias, recolhas de literatura popular e instrumentos de trabalho.

Editou com fernando lopes graça uma antologia da música regional portuguesa (1963, em cinco volumes) - que eu quero muito encontrar - e, em 1981, um cancioneiro popular português. "foi ainda autor de uma série de documentários televisivos, sob o título povo que canta. grande parte do seu espólio musical (também pertencente ao acervo do museu nacional de arqueologia e etnografia, em Lisboa) encontra-se ainda por editar ou organizar." (by wikipedia)








Foi esta antologia o fruto das primeiras pesquisas que Giacometti realizou em Portugal. Pôde contar com a preciosa colaboração de Fernando Lopes Graça, patente na selecção dos trechos musicais e na análise musical dos mesmos. A reedição conservou as palavras explicativas de Giacometti e os importantes textos de Graça. Embora não comporte as fotografias da pesquisa, que muito a enriqueceriam, incluiu as letras dos cantos, sempre importantes para uma melhor compreensão e acompanhamento.
É muito de louvar esta reedição dos célebres «discos de serapilheira», que na altura alcandoraram Michel Giacometti a um lugar destacado na etnomusicologia portuguesa. Foi desde logo o impacto fortíssimo do primeiro disco da série, dedicado a Trás-os-Montes, que trouxe aos intelectuais citadinos tradições e sons longínquos de um campo que inteiramente desconheciam. (attambur.com)

Ui, que agora já descobri mais nomes, e anteriores!

20 - Visitar o museu da imagem em Braga



esta semana, no primeiro dia de férias, fui com a rita e a joui ao museu da imagem. uma casa antiga e remodelada que está a paredes meias com o arco da porta nova - a entrada da cidade que nunca teve portas (conhecem a expressão "deixaste a porta aberta é porque és de braga"? pronto).


as duas irmãs, 1983

nunca lá tinha entrado e não podia deixar escapar esta exposição, crónicas portuguesas de georges dussaud. acompanhada lá fui. apesar de ter trabalhado num museu quando andava no liceu - nas férias do mesmo, claro - ainda sinto aquele pudor ridícilo de entrar sozinha num sítio desconhecido. nunca fui a um museu com os meus pais, não fui habituada nesse sentido, e odeio que a cultura me pareça estar na prateleira de cima, difícil de alcançar. porque normalmente está, mas quando não está, há que agarrá-la e aproveitá-la. e o que custa é começar, porque lá irei muitas mais vezes.

não compreendo como é que é preciso um estrangeiro vir a portugal, apaixonar-se por portugal, querer prolongar portugal e fazer este extraordinário trabalho de recolha e registo de vidas e tradições. quer dizer, compreendo, e até me alegro. é-lhe mais fácil ver coisas que não vemos, reconhecer maravilhas perecíveis que nós não cuidamos, porque não as vemos.

esta foi a minha favorita. quando vamos ao gerês?


agrelos, serra do barroso

as cores a preto e branco, fizeram-me imaginar estes cenários nos 60's e 70's. não, são a partir dos anos 80. não devem ter mudado muito desde o tempo em que os imaginei, e se calhar não devem ter mudado muito até agora. e cheguei à conclusão que - e não há escapatória à minha indiferença quanto ao mar (às vezes desaparece) - que as fotografias à beira mar, de pescadores, de sargaceiras me eram bonitas, muito. mas as fotografias no interior, de hortas, agricultura e crianças livres (livres?) me eram muito mais.

25.7.08

joui
estamos bue bebedas
e é super divertifo!

23.7.08

para as férias

é óbvio que acabei
QUERIDOS LEITORES E LEITORAS
ESTOU DE FÉRIAS!
hoje, defendi a minha tese de mestrado, e correu melhor do que imaginei, e mal terminou fui à biblioteca entregar "Fêtes d'Europe" e "Etnologia Minhota" e trouxe estas pérolas que aqui vos mostro.



agora, sem peso nas consciência, com o futuro em branco (mais ou menos, em cinzento clarinho) posso fazer o que eu quiser.

e o que eu quero é devorar estes livros.

e sei lá que mais

terminou o pior ano de sempre
estou feliz só por isso, ficaria feliz por isso.

20.7.08

pérolas

que encontrei na casa de galegos quando andei lá a vasculhar nos caixotes de fotografias

17.7.08

saber o que se quer

ah, estou animadissima com o meu trabalho

e 5 minutos depois

oh, porque raio é que eu quero fazer um doutoramento?

16.7.08

heatwave

ou eu estou mais uma vez a fazer as coisas à última da hora, como sempre
ou então só se trabalha mesmo quando a brisa fresca de fim de tarde começa a entrar pela janela.

estes dias têm estado bons para fazer aquilo que eu não posso: sentar à sombrinha ou na borda do mar, piscina ou lagoas (nisso, não sou nada, nada esquisita).

isto

já ultrapassa qualquer tipo de procrastinação possível e imaginável.
isto já devia estar arrumado. não consigo concentrar-me, em dois dias consegui construir cinco diapositivos e não vejo forma de voltar a pôr a cabeça neste trabalho quando ela já estava lançada para longe, bem longe.

i want to get on with it and now i'm stuck.
felizmente que numa semana estará tudo acabado.

14.7.08

8. do an Interrail, even if a small one

embora fizesse parte dos meus sonhos há muito, muito tempo, nunca pensei chegar ao final deste ano com ele concretizado. graças à insistência da Rita, concretizou-se. e não me parece que vá ser único.
em primeiro lugar, quero fazer um mais comprido. de um mês. e que sejamos três. embora duas seja um bom número e, neste caso, uma óptima parelha, três é o número perfeito. e o trio em mente ainda mais perfeito seria.a rita já resumiu a viagem em imagens.
budapeste, onde a melancolia é uma forma de ser característica. essencial e peculiar.
bratislava que me encantou, ou melhor, arrebatou para além do compreensível. talvez tenha sido a verdura da eslováquia que me tenha despertado a curiosidade mais do que a cidade, na qual a rita acha (e provavelmente com razão) que eu não conseguiria habitar por mais do que uns meses.
depois, a assombrosa, a majestosa, a imponente viena. que me meteu medo, à primeira, e depois começou, devagarinho a instalar-se nas minhas possibilidades.
depois da imponência, os jardins, muitos jardins. o mercado, que era tão fresquinho e cheio de cor, que era capaz de me mudar para viena só para fazer lá compras.
depois, cracóvia, onde tudo o que podia correr mal aconteceu. o peso de auschwitz, onde se enfrenta tudo o que de pior há na humanidade. e o que há de melhor, por incrível que possa parecer. como se momentos históricos assim pusessem à prova os limites do potencial humano e estivessem agora expostos num museu, para toda a gente ver. e questionar-se do que é que seria capaz.
depois, praga. meu deus. praga. que cidade. parece um cenário de conto de fadas. uma descrição-cliché e só dá vontade de a repetir uma e outra vez. e dá vontade de dar beijinhos (não na rita).

onde a cerveja era just perfect.

vivia lá, se pudesse, com vocês e com o zvo, como no sonho da rita em que fazíamos o pequeno-almoço cheio de pão e frutas e coisas boas e levávamos ao outro lado do pátio e éramos todos felizes e sorridentes e são assim os contos de fadas.

depois, berlim. a inesperada. a movimentada. cheia de influências e histórias e criatividade e movimento e coisas e pessoas bonitas e interessantes. para regalar o olhar e o ouvido. e nunca pensei ouvir a rita dizer "hmmm, aquelas salsichas cheiram bem!"

em todos os sítios que passávamos, construíamos uma nova vida, quinhentas mil novas vontades. quisemos viver em todo o lado, ela mais nuns sítios, eu mais noutros. mas sempre percebendo que alguns dias é muito menos do que o suficiente para perceber, para se entranhar na beleza que todos os sítios têm. devia ser esse, o princípio da vida nómada. sugar tudo o que há de bom de um sítio, e depois passar à frente. assentar apenas o suficiente. nunca se instalar. podia fazer disso um estilo de vida.

Procrastination

A minha arte.
É bom ter tempo para ela outra vez :)

(merci, Chloé, hihih)

being back in my skin

é andar alegremente pelos corredores do departamento sem pesos na alma
é voltar a fazer projectos para nunca mais repetir um ano tão mau como este foi
é recuperar sonhos que já não me lembrava de ter
é querer ouvir música e fazer coisas bonitas e fazê-las
é escrever mails às pessoas de quem tenho mais saudades depois de tanto tempo
é querer pôr a mochila às costas e ir passear
é fazer listas e mais listas de projectos e possibilidades
é voltar a ter sonhos que não envolvem trabalho
é ter vontade de cozinhar para toda a gente
é vontade de usar saias
é vontade de dançar e tocar timbalão e voltar a pegar no violoncelo
é querer apanhar muito, muito sol e muito mar e muitos horizontes
é querer descer a costa alentejana a pé
andar muito, muito a pé
tirar fotografias bonitas na rua
encontrar fotografias bonitas na rua
ler a história da europa
ser europeia do mundo
cantarolar no duche
querer comprar uma bicicleta em segunda mão (será que a minha velhinha tem esperança?)
levar a minha irmã a passear noutra cidade
escrever, ler e ver filmes

e voltar a respirar e encontrar a beleza onde ela costumava andar
mais ou menos por todo o lado :)

9.7.08

A invenção da Saudade, por Pascoaes

Como se sabe, a publicação das teses de Pascoaes suscitou uma polémica muito viva. Um dos adversários mais virulentos de Pascoaes foi António Sérgio (1883-1969). Defendeno enfaticamente um ponto de vista racionalista e anti-nacionalista acerca do tópico, Sérgio optou por centrar os seus ataques a Pascoaes em torno do carácter supostamente intraduzível da palavra saudade. De facto, segundo Pascoaes, o povo português seria:

“o único povo que pode dizer que na sua língua existe uma palavra intraduzível nos outros idiomas, a qual encerra todo o sentido da sua alma colectiva (…) Sim: a palavra saudade é intraduzível. O único povo que sente a Saudade é o povo português (…). Os outros povos europeus sentem naturalmente uma espécie de saudade que em francês é souvenir, em espanhol recuerdo, etc. Mas este sofrimento, nesses Povos, não toma alma e o corpo que adquire no sentir português. Souvenir ou recuerdo são apenas um elementos da Saudade, cujo perfil é inconfundível. e por isso, ela se exteriorizou numa palavra que não tem equivalente noutras línguas”

Para antónio Sérgio, pelo contrário, a palavra saudade não era de maneira nenhuma intraduzível:

“muito ao contrário do que Pascoaes afirma, a palavra saudade é traduzível. Várias nações a representam por um termo especial: o galego tem soledades, soedades, saudades; o catalão anyoransa, anyoramento, o italiano desio, disio; o romeno, doru, ou dor; o sueco saknad; o dinamarquês, savn; e o islandês, saknaor…”

Carolina Michaelis de Vasconcelos também não subscrevia as teses de Pascoaes sobre o carácter instrduzível da saudade, tentando igualmente - à semelhança de Sérgio - mostrar que um certo número de línguas europeias possuíam também equivalentes da saudade:

“é inexacta a ideia que outras nações desconheçam esse sentimento. É ilusória a afirmação (já quatro vezes secular) que o mesmo vocábulo Saudade (…) não tenha equivalente em língua alguma do globo terráqueo e distinga unicamente a faixa atlântica, faltando mesmo na Galiza de além-Minho”

Segundo Carolina Michaelis, saudade tinha de facto equivalente em quatro outras línguas da península ibérica: soledad ou soledades em castelhano, senhoredade no asturiano, morrinha no galego e anoryanza e anoryament no catalão. De resto, seria possível encontrar termos similares noutras línguas europeias: sehnsucht em alemão, längta em sueco. A particularidade da saudade residiria no seu uso mais frequente em português, por exemplo, durante os descobrimentos ou na literatura, e na importância da sua contribuição para a configuração da “alma portuguesa”.

Apesar desta controvérsia, as ideias de Pascoaes receberam em geral um acolhimento bastante favorável. como escreveu Óscar Lopes, “as principais ideias de pascoaes estão em sintonia com a cultura portuguesa do seu tempo” e, entre as elites culturais portuguesas, a saudade torna-se num instrumento relativamente usado para falar nas especificidades do ser português. (…)


mais aqui

3.7.08

sabias que mantive um diário em Granada?
e o encontrei e folheei


e mais abaixo estava o livro das desilusões
escrito
que a joana nos pediu numas escadas no realejo

que saudades.

não fiz nada do que disse que ia fazer. o meu quarto continua em pantanas

mas já dormi ao relento
já descobri as histórias de amor da família
já passei um dia com pezinhos na água
tenho dançado muito no quarto
já comi um gelado
já li dos trajes de viana
(já sei quais foram as coisas preferidas da oprah em 2007. quero aquela batedeira tão maldosamente)

oh ana, também não gosto de maiúsculas!