15.10.06

restless night

é sábado de noite. nunca são muito dormidos, não pelo que se espera mas porque são sempre demasiado marásmicos para me cansarem. gosto deles. e dos domingos.
e de inventar palavras, obviamente.
e, às vezes, dos pontos finais.

tem sido o único dia em que escrevo alguma coisa. não grande coisa. deixei de escrever e-mails há umas três semanas, e isto pesa-me na consciencia porque se a linha começar a fraquejar entre pessoas que estão longe, a culpa será só minha. é-me lamentável porque é a única forma que encontro de esticar os fios. já usamos as mesmas metáforas. não toco em papel, dá-me preguiça. não penso, dá-me preguiça. não tenho lido muito, dá-me preguiça e os livros chegam dia sim dia sim.

estava só à espera desta música.
faz-me lembrar coisas boas.
conseguia fazer um mapa de coisas boas.

há dias que penso que não fui eu que vivi o que vivi. parece-me já tão díspare dos meus dias agora que nem pareço eu, ali naquelas fotos a imitar um macaco com umas coisas peludas e verdes nas orelhas.

não vou voltar para tornar isto melhor.
acho que não mudo de ideias.

vi um conjunto de fotografias de sem-abrigo de roma e budapeste e sei lá que mais. por serem tão sujos, gretados, enrugados, cansados, as fotografias a preto e branco ficam do mais bonito, mesmo. as fotografias a cores são só reais, é o que vejo ás vezes na rua, e a pessoa olha e faz um ar de pena e fica triste durante mais uns passos mas nunca se faz realmente nada. e até se gostava. mas não se faz. olha, dá-me preguiça. as negras têm uma transparência, uma profundidade, vê-se quase uma história. vi um que me lembrou o walt whitman e nem sei porquê, nunca vi o walt whitman! mas pareceu-me um americano, de barbas brancas, olhar de quem espera alguma coisa. agora olhei de novo e já vi o sorriso, pareceu-me um bom avozinho. e não costumo gostar das fotografias a preto e branco.
o pedinte mais bonito que já vi vagueava por madrid. era preto e tinha os cabelos do mais branco que pode ser um cabelo. era a preto e branco.

não quero viver para o meu umbigo, mas se for para deixar esta merda melhor, não vai ser por aqui que vou passar.

e quero um kazoo.
e um orangotango.

nunca faço nada. o sábado é o dia da consciência pesada.
não achas que merecia um abanão como tu?
não de tantas horas

olha, agora chegou a estrella morente com volver...

valha-me deus. a história de uma mulher que volta ao primeiro amor, à primeira casa.

Pero el viajero que huye
tarde o temprano detiene su andar...
Y aunque el olvido, que todo destruye,
haya matado mi vieja ilusión,
guardo escondida una esperanza humilde
que es toda la fortuna de mi corazón.
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