19.7.07

do homem que criou uma neta sozinho, numa vila de pescadores na costa galega. costa de mortes e pescarias invertidas. marchante de profissão, cortou três dedos da mão direita deixando o polegar e o mindinho intactos. eram três bifes de vaca para a dona luz. os dedos restantes davam algum suporte mas a mão não era muito utilizada de qualquer forma. a carne não era muito rentável de qualquer forma por isso fechou o negócio. entre o tempo do cheiro a carne morta lhe desentranhar do corpo viu o seu genro desaparecer para sempre no meio de mar, viu a sua neta soluçar a dor, viu a sua filha ao pé da estrada, numa cadeira de plástico, a puta. nunca deixaria o cheiro a peixe substituir o da carne, nunca. pegou na neta e abriu o bar onde pescadores, faroleiros e marinheiros comem calados o seu almoço. espera por eles todas as manhãs com a televisão ligada no canal infantil, para a neta, enquanto lê o jornal. triunfa ao saber que os seus dois dedos seguram perfeitamente uma chávena de café ou um copo de cerveja, mas que nunca puxarão as redes que arrastam para dentro mais do que deixam saltar para fora, onde já se viu, tanto homem vazio.

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