8.1.08

estou perdida de sono. gosto mesmo do novo template.
estou mesmo perdida de sono.
mas lembrei-me de uma coisa. não paro de ouvir a ausência. de a cantar. a solidão é um sina, e há muito tempo que deixei de gostar de pontos finais, salvo seja.
de pontos sinais gosto, os que marcam a sina.

antónio era agricultor.
velho, encovado, viúvo. mãos gretadas, pele seca e morena, ainda assim sempre luminosa. era do sorriso. antónio não tinha nada, cultivava o que comia, vivia sozinho, ia à vila ao Domingo para a missa e regressava à vida de todos os dias. o velho não tinha nada, e sorria sempre, o tolo. alguns chamavam-lhe o tó tolo, mas não, mas não. antónio semeava as batatas, as couves, os tomates juntamente com um segredo que guardava desde sempre. antónio semeava memórias. antónio tinha a inacreditável capacidade de semear, regar, cuidar e colher memórias. semeava uma coisa e, por vezes, colhia outra. nunca a semente nos traz o que esperamos, mas era só querer. era só querer lembrar-se do almoço farto do dia anterior, era só querer lembrar-se dos netos que não tem, que estão na escola e já vêm jantar. o velho, o cabrão do velho sortudo, imaginava os seus pontos sinais e recordava-os feliz como se os viver ainda há pouco.
esperava
colhia
e vivia
e depois sonhava mais alto
e semava
colhia
e vivia.

esta vida são dois dias
e nós podemos mesmo fazer tudo o que quisermos

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