ontem à noite fui ver esta peça, sozinha. o programa que esperava (e do qual tinha tanta vontade) foi desmarcado. já não pude matar saudades, e para preencher outros recantos que também têm andado descuidados, fui ao teatro.
nem de propósito.
"a história imaginada de antónio, sobrevivente numa aldeia deserta. a memória desse antónio, testemunho do vazio. antónio abandonado, aquele que ficou esquecido. a terra deserta, a tradição deserta. a identidade esquecida."
não li a sinopsis antes da peça. mas imaginava-a muito mais lenta, muito menos enérgica, muito menos exaltada do que o que foi. no fim, o público não saiu. ficou retido na sala, numa continuação que pretendia o convívio e a discussão entre o actor e o público.
porque quando estamos do lado de lá, nunca sabemos de quem são as caras, quem é aquela massa de gente que muda todos os dias. que entra e que sai, como se nada tivesse mudado. mas ficamos a imaginar que mudança terá sido essa que se produziu naqueles momentos de escuridão, em que a peça decorreu, em que oferecemos a pele que vestimos durante meses.
como seria de esperar, o público ficou intimidado. algumas vozes corajosas, mas depois o inevitável discurso político. e eu perdi a coragem de dizer o que ia dizer.
que depois de imaginar a peça tão vagarosa como os passos de um velhinho, tinha sido surpreendida. mas depois percebi que aquela velocidade não era a do relógio, mas da fiada turbulenta da imaginação, do ruído do próprio silêncio, da velocidade vertiginosa das memórias. que a solidão está cheia de fantasmas que não andam tão devagarinho como um pé atrás do outro.
9.11.08
a visita
Postado por joui às 1:40 da tarde
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2 comentários:
tens razão. gostava de ver :)Tenho saudades de ir ao teatro
uhm
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