26.2.09

vinhais

fui passar o carnaval a vinhais. depois de me tentar lembar, apercebi-me que trás-os-montes não tem memória alguma em mim, além de umas breves horas em bragança ou mirandela. aqui passei quatro dias, numa vila de que não sabia nada, apenas que usavam máscaras no natal, e que soltavam diabos na quarta de cinzas.

é de paisagens tão tranquilas, de ar tão puro e verdes tão verdes (e inesperados), no meio de árvores secas e estaladiças

mas o melhor de tudo, são as pessoas. assim, em conversas, fiquei a saber que esta figueira seca, que nunca deu fruto nem flor, que está nesta igreja (e fartei-me de cantar as freiras de santa clara, porque o convento fica mesmo ao lado) apareceu - conta a lenda - depois do padre ter dito na missa "o espírito santo é tão verdade como vai nascer uma árvore no topo da igreja!" e olhem, nasceu.

ou então uma outra, de outra pessoa, que afinal disse que o que o padre disse foi "é tão verdade como agora uma criança se afoga no rio tuela" mas já não me lembro onde entra a figueira aqui...era disto que tinha medo, de me esquecer. bem. é que havia mesmo uma criança a afogar-se.

em vinhais, a senhora do posto de turismo ofereceu-me o primeiro volume do livro "folklore de vinhais". disse que não era livro que se vendesse, porque tinha os cantinhos dobrados.


engraçado, dada a tradição diabólica que infelizmente perdi.




andei tanto tanto, nem dei por ela, mas foi o que disseram. parece que as minhas caminhadas diárias me servem para alguma coisa afinal. tenho a pele toda estalada, do sol e do frio. passei a pior noite da minha vida. os dois graus negativos da noite foram demasiado para mim...
fiquei maravilhada com a quantidade de ovelhinhas que nascem todos os dias por ali. todo o rebanho tinha uns bebés, dei leite a ovelhinhas!!


e a pastora, que nos corrigiu dizendo que foi "erro do gprs"

em travanca, começou o fartote de chouriço em tabernas. na tasquinha do zé encontrei estes três senhores tão simpáticos que até foram buscar os cães para posar para a foto. fomos com eles e as queixas começaram. não há gente nova, não se pode sobreviver da lavoura, há uma criança aqui, morrem mais do que nascem...e outras histórias, como a do merendeiro comido com mãos de mexer o estrume. e foi o que melhor lhe soube toda a vida!

chouriço e broa caseiros

neve na serra da coroa
as portas de santa cruz eram verde água

as portas de santa cruz tinham corações

as portas de santa cruz eram de tantas cores

as ruas de santa cruz escreviam-se na parede

"Oh filha não que sou feia, já sou mui vielha". tinha 93 anos.


a barragem da prada


andamos de tractor
celebramos o carnaval como deve ser.gaitas, bombos, churrasco, pasteis de vinhais
e a cereja no topo do bolo: fomos cabeçudos no desfile!


estava tão feliz lá, que me escrevi uma carta. foram dias perfeitos, hm hm.
joana

5 comentários:

kate disse...

fogo! que fotos mais bonitas (adoro que estejas a ganhar coragem para tirar tantas fotos a pessoas)!! E que dias perfeitos parecem ter sido! este é um dos posts mais bonitos q ja puseste aqui! :)

Joana disse...

oh cati muito obrigada!!:D

joui disse...

pois estão, pois estão!!
e tudo tão mais bonito com a história!
adoro os cabeçudos e adoro a porta verde água e adoro as molas na parede caiada e adoro as paisagens!
lindo :)

Anónimo disse...

inspirador :)

JoaoG disse...

Lindo, linda! Continuas a ter aquele olhar curioso para as coisas bonitas. Poetiza de imagens, cores, tradições e curiosidades.