7.6.11

a trégua (1963)


há uns anos no verão, tive a estúpida ideia de ler "se isto é um homem" como leitura de praia. o livro perseguiu-me durante muito tempo, como perseguem livros e filmes pungentes e reais. primo levi, um químico e escritor italiano foi preso enquanto partisan nas montanhas italianas e levado em 1944 para aushwitz. "se isto é um homem" retrata os onze meses que aí viveu, as maldades da sobrevivência e a miséria de quem vive sem nada num lager.

em "a trégua", primo levi é libertado. em janeiro de 1945 as tropas russas libertam o campo. conscientes disso, pouco antes, as SS dizimaram o maior número que podiam, excepto os extremamente doentes que estavam na enfermaria - caso de levi. este vive, no meio da febre e da inconsciência, a libertação sem alegria, sem reacção. "a trégua" relata os meses de aventura, mendicidade e intervalo entre a libertação e a chegada a turim, na itália.

este é um livro com uma alegria diferente, com momentos e personagens engraçadas, todas elas vindas de um lager que as corrompeu além do suportável mas que lá se aguentam. de janeiro a outubro de 1945 levi passou por campos miseráveis, fome na polónia, russia, bielorrussia e depois de uma viagem de um mês, chega a itália.

chama-se a "trégua" porque separa o momento em que primo levi vive o inimaginável e o momento em que volta a viver. mas tem de viver com aquilo.

este morre nos anos 80, uns dizem que se suicidou outros que foi um acidente (caiu da varanda interior da sua casa, do 3º andar). entre episódios de depressão levi continuava a escrever e fazia questão de contar as suas experiências em escolas, homenagens - para que ninguém esqueça.

eu li o livro em dois dias, gostei muito. gosto muito da escrita. usa palavras certas, inventa algumas, humaniza objectos, é agradável de ler. e nunca é agressivo, como o que se devia esperar.

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